As crianças aprendem da mesma forma? Como a escola trabalha? Para Daniela Munerato, coordenadora da Educação Infantil da Escola Viva, o processo de alfabetização começa quando a criança nasce, porque ela vive em um mundo que já tem palavras. Confira agora quais instrumentos ajudam as crianças nesta etapa.
Por Daniela Munerato
A escola compõe um dos ambientes frequentados pelas crianças e quando falamos de alfabetização o mais importante é a criança compreender a função da leitura e da escrita em um contexto social e comunicativo que faça sentido. Desta forma, ela se encontra com as palavras no cotidiano sempre com uma função. Nas ruas temos as placas, no mercado as embalagens, em casa as anotações que ora ficam fixadas em post-it’s na geladeira ou mesmo nos celulares, já que acompanham suas famílias dizendo: "só um minutinho, estou mandando uma mensagem", "Ah! deixa eu anotar aqui, preciso comprar banana para fazer uma receita, não posso esquecer".
Fato é, que a leitura e a escrita apresentam para nossos pequenos aprendizes um "mistério" a ser desvendado que vem junto a um enorme desejo de compreender este sistema e apropriar-se dele.
Pelo estabelecimento das relações, conforme a criança reflete sobre sua própria escrita, nas diferentes hipóteses que constrói, sobre como o outro escreve (tendo o adulto como escriba ou outra criança), sobre como lê e também como escuta as diferentes leituras, sejam literárias (livros de literatura) ou instrucional (regras de um jogo ou uma receita, por exemplo) entre outras possibilidades.
Portanto, não se trata de um sistema de decodificação e sim da construção de um sistema de representação com uma lógica própria que deve ser compreendida e construída.
Na escola, os eixos da oralidade, da leitura e da escrita estão presentes diariamente. Temos situações habituais que estão contempladas na nossa rotina, elaboramos bilhetes para os colegas das outras turmas, comentamos uma indicação literária que recebemos, realizamos pesquisas relacionadas aos temas dos grupos ou curiosidades e, nesta pesquisa, encontramos as informações em diferentes portadores textuais com o desafio de registrar nosso percurso num texto coletivo, em dupla ou ainda individualmente.
Temos também as sequências didáticas como boas provocações para este olhar curioso sobre o ler e o escrever, formal ou informalmente.
Neste contexto, podemos citar o trabalho realizado com o próprio nome como uma palavra de excelência que do ponto de vista pessoal nos identifica e faz parte da nossa identidade. Assim, onde ele estiver escrito há uma pertença, seja em um material ou mesmo numa lista de nomes do grupo. Isto posto, vale mencionar que aprender a reconhecê-lo e a escrevê-lo é algo cheio de significado e reconhecer a sua escrita possibilita a reflexão sobre as seguintes questões: não é qualquer conjunto de letras que serve para qualquer nome, indica uma ordem que não é aleatória e traz a compreensão também de que o início do nome escrito corresponde ao início do nome dito. Muitos desafios!
E quando as crianças se deparam com a lista dos nomes do grupo fazem uma comparação entre as palavras, considerando seu tamanho, suas semelhanças e diferenças e as relações continuam com as palavras de referência que encontrarem, como as palavras da rotina escritas na lousa como organizadoras do nosso tempo.
Vale mencionar que a literatura é uma parte muito importante deste processo. Ouvir uma história muitas vezes por prazer e aproveitar para discutir as interpretações sobre as tramas, personagens, ter um livro em mãos e poder folheá-lo, narrando trechos sobre os quais vão se apropriando, encontrar-se com diferentes gêneros textuais é algo muito rico e que contribui para o percurso do leitor de literatura, iniciando desde pequeninos. Além disso, pela leitura de um texto há o encontro com novas e diferentes palavras e expressões.
Lembramos que as situações descritas acima devem estar inseridas em projetos integrados na escola com a clareza de seus propósitos e com a intenção de acompanharmos as teorias provisórias e as hipóteses das crianças, planejando intervenções e atividades para que avancem, considerando sempre a construção de conhecimento num movimento de mediação e acompanhamento fundamental. Afinal, as crianças não pensam por áreas de conhecimento e sim utilizando as diferentes linguagens para compreenderem o mundo. Para finalizar, que neste processo, verbos como: refletir, observar, comparar, justificar, expressar estejam presentes e sejam norteadores de caminhos individuais e coletivos, no qual o "erro" na verdade é revelado enquanto "saber", sem a expectativa de se apropriem do convencional sem refletirem sobre tantas questões importantes neste percurso.
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Como as famílias podem colaborar para o processo de alfabetização das crianças em tempos de pandemia.
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Daniela Munerato é psicóloga, Psicopedagoga, Mestra em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem, atualmente cursando mestrado na Argentina sobre Alfabetização. Formadora no Centro de Formação da Vila e Coordenadora dos anos finais do Infantil e Iniciais do F1 na Escola Viva.