Por que a escola precisa falar sobre o fim do mundo?

Luce Diogo, Coordenadora Pedagógica do Fundamental

A mobilização para a escrita deste artigo foi a experiência de residência nas escolas que fazem parte do grupo Critique do Rio de Janeiro, em junho de 2019.

“Aprender o caminho do inferno para dele se afastar.” (Alberto Acosta)

Porque defendemos que a escola é a instituição responsável por produzir conhecimentos sobre os riscos de destruição do planeta, sobre o aquecimento global e sobre a extinção de milhões de pessoas e espécies. A escola traz ao debate políticas públicas pautadas pelo direito de existir de todas as formas de vida, sobre justiça e democracia. Enfim, ilumina os modos como se dão as relações entre o desenvolvimento capitalista e a crise climática. Trazer estes temas para a escola significa possibilitar que os estudantes tomem, em algum momento, o mundo para si e criem novas formas de existência. Nesse sentido, o mundo que é trazido para a escola como conhecimento, saberes e habilidades, é conectado com a ética e a estética do bem comum e do “bem viver”¹.

Porque defendemos que é na escola que crianças e jovens são expostos à experiência do pensamento coletivo, como um ensaio da relação com esse mundo, criando estratégias e tecnologias para que essa ocupação seja criativa, solidária e sustentável. Neste sentido, é na escola que se propõe a experiência da vida pública e, portanto, política (MASSCHELEIN e SIMONS, 2017, p. 26). Nessa dimensão política do escolar compreende-se que as formas de existência estão interligadas com laços vivos e irreversíveis, de modo que a possibilidade de existência de uns está condicionada às possibilidades de existência de outros.

Porque defendemos que, embora a escola não seja o mundo, ela tira dele os conhecimentos e habilidades que serão ensinadas e aprendidas. Cabe aos professores e educadores refletirem sobre quais mundos serão colocados em jogo, buscando garantir que um alarme dispare para afastar os mais novos do pensamento ilusório (MASSCHELEIN e SIMONS, 2017, p. 34) do empreendedorismo de si, da meritocracia e do individualismo.

Porque defendemos que a escola é a instituição que coloca sob suspeita (ou em suspensão) todo o pensamento/desejo de homogeneização, pois a diferença nos modos de existir é um valor indiscutível. Portanto, nesse espaço se combatem as tentativas de exotização e/ou folclorização das formas de existência que escapam ao conhecido e ao explicável, irredutíveis à normatização. A escola também coloca sob suspeita as concepções de crescimento e desenvolvimento estruturados em inesgotáveis recursos naturais e em um mercado capaz de absorver tudo o que é produzido (ACOSTA, p. 34), criando o circuito produção/consumo. A escola precisa acreditar na urgência de um pacto civilizatório que possibilite que crianças e jovens possam imaginar sociedades sustentáveis, pós-capitalista.

Porque defendemos que a escola é uma invenção humana, em que seus habitantes experimentam uma certa forma de amor e cuidado, por si e pelo mundo. Um amor que não se reduz à espetacularização, mas que se manifesta em certos modos de falar e escutar. Neste tempo/espaço de amor e cuidado, criam-se formas de se comprometer com o mundo. É tarefa da educação garantir que o mundo fale com os estudantes.

Enfim, a escola precisa falar sobre o fim do mundo, considerando que o tempo não está mais a nosso favor, para presentificar crianças e jovens no/do mundo, escapando dos chamados do passado e do futuro premeditados. Colocando nossos estudantes preparados para abrir possibilidades para o devir-mundo, pelo devir-estudante, devir-escola, devir-coabitação.

“Falar no fim do mundo é falar na necessidade de imaginar, antes que um novo mundo em lugar deste nosso mundo presente, um novo povo; o povo que falta. Um povo que creia no mundo que ele deverá criar com o que de mundo nós deixamos a ele.” (DANOWISKI e CASTRO, 2017, p. 165.)

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¹No livro O Bem Viver, Alberto Acosta apresenta algumas definições do “bem Viver”, dentre elas destacamos: “O Bem Viver apresenta-se como uma oportunidade para construir coletivamente novas formas de vida […] Sem esquecer e menos ainda manipular suas origens ancestrais, pode servir de plataforma para discutir, consensualizar e aplicar respostas aos devastadores efeitos das mudanças climáticas e às crescentes marginalizações e violências sociais” (ACOSTA, 2016, p. 33 e 69).

Obras citadas e consultadas

ACOSTA, Alberto. O Bem Viver – uma oportunidade para imaginar outros mundos; tradução de Tadeu Breda. São Paulo: Autonomia Literária, Elefante, 2016.

CASTRO, Eduardo Viveiros & DANOWISKI, Déborah. Há um mundo por vir? Ensaio sobre os medos e os fins – 2. Ed. – Florianópolis: Cultura e Barbarie; Instituto Socioambiental, 2017.

MASSCHELEIN, Jan & SIMONS, Maarten. Em defesa da escola – uma questão pública; tradução Cristina Antunes – 2. Ed. – Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.


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