ESCOLA VIVA

#VivaNãoTolera

Por Marília Costa Dias e Francisco Ferreira - Direção Pedagógica Escola Viva

Em 27 de março deste ano, ficamos todos profundamente chocados com a notícia de um ataque a uma escola em São Paulo, que vitimou uma professora de 71 anos. Pouco mais de uma semana depois, em 5 de abril, o horror ganhou contornos inimagináveis: quatro crianças foram mortas em uma creche em Santa Catarina. E, na sequência, uma série de postagens em redes e mídias sociais anunciava que haveria ataques concentrados a escolas no dia 20 de abril.

Entre o medo e a indignação, as comunidades escolares se mobilizaram para procurar entender o que estava acontecendo e como poderiam manter os seus ambientes seguros, promovendo uma cultura de paz e de construção do bem comum.

Além das medidas imediatas relativas ao reforço e ampliação de protocolos de segurança, iniciou-se uma reflexão profunda acerca dos fatores que podem gerar violência no contexto escolar.

Na Escola Viva, já havíamos identificado que o cotidiano era permeado - muitas vezes, de forma sutil; às vezes, de uma maneira ostensiva - por diversas manifestações de intolerância, preconceito, discriminação e intimidação, e também pela banalização de formas desrespeitosas de tratamento. Impactados pelo cenário e continuamente inspirados pelo nosso propósito educativo, decidimos dar início a um projeto que denominamos #Viva NãoTolera.

Este projeto previa algumas etapas.

A primeira foi listar frases comumente utilizadas no dia a dia e que expressavam diversas formas de violência. Essas frases se transformaram em cartazes que foram espalhados pelas paredes da escola. O objetivo era gerar estranhamento, indignação e, possivelmente, algum deslocamento.      

A segunda etapa envolveu, a partir de discussões em sala de aula e com os(as) representantes de classe, a produção de frases que traduzissem as expectativas que os(as) estudantes tinham em relação à convivência e socialização no ambiente escolar. Essas frases substituíram os primeiros cartazes, dando um enfoque afirmativo em relação ao que desejamos alcançar nas relações dentro da escola.

Na sequência, foram realizados encontros com o Grêmio e com os(as) representantes de classe para elaboração dos pilares éticos que deveriam orientar as relações entre as pessoas na nossa comunidade escolar.

Esse processo resultou na construção de um manifesto dos estudantes Viva, que reafirma a "convicção numa educação que se sustente em bases sólidas, enraizadas em valores de respeito à diversidade, conscientização e engajamento e que tenham na ética sua principal fortaleza", e defende "uma educação que seja um reflexo dos princípios culturais e democráticos que formam a base da nossa sociedade".

Leia aqui o Manifesto na íntegra.

O compromisso com esse manifesto foi reafirmado em assembleia perante a comunidade Viva, entre muitos(as) estudantes, colaboradores(as) e alguns familiares, representantes do Comitê de Cultura Inclusiva.

Isso significa que estamos garantindo uma ambiência 100% pacífica, colaborativa, solidária, dialógica? De maneira alguma, mas estamos assegurando uma ambiência que favorece a empatia, a reflexão e uma bússola ética para balizar a tomada de decisões sobre como queremos ser e fazer em cada situação, em cada desafio da convivência humana.

E, nesse sentido, diante de mais uma notícia, esta semana, de violência e morte em uma escola da nossa cidade, muito nos emociona ver que nossas crianças e adolescentes conseguem construir esse manifesto e se comprometer com princípios éticos dessa magnitude, em um mundo que continuamente coloca em xeque os valores mais básicos da nossa humanidade.

Há muito a se fazer, mas é na prática cotidiana, em torno de situações corriqueiras ou complexas, que vamos exercitando o nosso manifesto, para que todos e todas se apropriem do espaço público como um lugar de aprendizagem com a diferença e de construção do bem comum. Estes objetivos precisam estar nas mentes e nos corações de cada um e de todos nós, gerando uma ação sinérgica de toda a comunidade escolar.

É essencial termos consciência de que somos todos e todas responsáveis por criar um ambiente regido pela ética, pela solidariedade e pela equidade.


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