por
Daniela Munerato Coordenadora Pedagógica de Fundamental 1 da Escola Viva
e Emanuelle Wada - Integrante do Núcleo de Práticas Inclusivas da Escola Viva
Recentemente, o assunto que dá título a este texto foi tema de conversa com algumas famílias de alunos e alunas do 2º ano do Ensino Fundamental da Escola Viva.
Com o objetivo de tentar responder a essa questão complexa e seguir refletindo sobre o assunto, vamos apresentar alguns pontos.
É importante termos em vista que, embora estejamos falando do 2º ano do Ensino Fundamental, as crianças desta idade ainda vivem o período da infância (até 12 anos) e mostram-se curiosas pelo mundo.
Neste sentido, são curiosas por natureza, e o mundo adulto não fica de fora. Observam, imitam, se indagam, brincam de faz de conta, se identificam e transitam por diferentes papéis pela brincadeira, algo muito natural nesta fase do desenvolvimento.
Percebemos também a força do coletivo, o desejo de experimentar e a importância das relações sociais entre elas: os pares têm papel importantíssimo. Querem pertencer a um grupo com pontos de vista que podem ser diferentes, mas inseridos em uma relação de reciprocidade, ou seja, entre crianças: é conversa de criança, com pensamento de criança, e não de adulto.
Pois bem, vamos localizar as crianças da qual falamos, no mundo de hoje?
A contemporaneidade traz desafios importantes, um deles é a tecnologia, tão presente na vida das crianças. Hoje elas já nascem no mundo tecnológico, dado diferente de tempos atrás. Além disso, não podemos desconsiderar que, nos dois últimos anos, foram os aparelhos tecnológicos que nos fizeram manter os laços sociais. Ao passo que operaram como uma forma segura de nos conectarmos com as pessoas e com o mundo, hoje, temos que refletir sobre o impacto do tempo que as pequenas crianças passam em frente às telas.
Essa reflexão se faz atual, pois, antes dos tempos pandêmicos, profissionais que atuam com a infância já discutiam sobre as telas e as não experiências e seu impacto no desenvolvimento.
Podemos também citar outros desafios, como uma agenda das crianças mais próxima à dos adultos, sempre cheia; temos também a "pressa" nas ações e nas respostas e, por consequência, a ansiedade presente em todas as idades.
Precisamos estar sempre atentos. Quem consegue viver o tão importante ócio?
Além disso, as crianças acompanham a exposição dos conteúdos de adultos com acesso muito mais fácil de forma geral, nas televisões, celulares, tablets, computadores e, nas lojas de roupas para crianças, o chamariz: "Tal mãe, tal filha". Vestido de tamanhos adulto e infantil iguaizinhos, mas com "cara de adulto".
Será que fazem parte da Infância?
A resposta é sim, mas no contexto de brincadeira!
Que elas façam parte do jogo simbólico quando brincamos de ser alguém, representamos um personagem. Quando acaba a brincadeira, a maquiagem é retirada, como sinal desse encerramento, afinal não é saudável viver um personagem para sempre…
Portanto, maquiagem para ir à escola, ao shopping, a uma festa, que não seja à fantasia, não é parte da infância.
Quando a criança acredita na maquiagem para fazer parte dela, perde-se a brincadeira e entra a identidade. Porque a maquiagem foi feita para o público adulto ou para algumas situações específicas nos contextos apontados acima.
Neste período em que ainda estamos cuidadosos com os compartilhamentos, a maquiagem pode vir, mas precisamos combinar com os professores e professoras e ter a clareza de que os batons não podem ser compartilhados.
A brincadeira acontece somente na hora do recreio. E a maquiagem é tirada quando a brincadeira termina.
Diversos autores falam sobre a importância da imitação e da brincadeira na Infância, como: Piaget, Palacius, Vygotsky, Freud, Jerusalinsky, Macedo, entre outros.
O uso de sutiã, sapatos com saltos, roupas de adultos estão relacionados a essa questão, mas não podem ter o tamanho da criança, precisam ficar grandes e passar mensagem da brincadeira, ou seja, não foi feito para você usar, mas você pode brincar de ser…
Quando a criança tem um sutiã do seu tamanho, qual mensagem está por trás? Que ela precisa dele?
Sobre o TikTok, trata-se de um aplicativo que contém vídeos curtos (de 15 e 60 segundos), e é outro tema importante e muito presente.
Com um planejamento muito intenso sobre a questão do que seria uma novidade e um desafio que torna pessoas celebridades pelo número de visualizações, a Byte Dance, com grande experiência no mercado de redes sociais, usou todo seu conhecimento para criar um dos algoritmos com a melhor machine learning do mundo.
Podemos perceber que, diante do primeiro acesso, o Tiktok aprende rapidamente do que você gosta e, quase instantaneamente, você pode assistir a cinco ou seis vídeos em um minuto.
Todo o processo em nada favorece a criação e pode impactar o desenvolvimento.
O aplicativo foi criado para adolescentes a partir de 13 anos, faixa etária que não representa nossos alunos e alunas do 2º ano de Ensino Fundamental, e podemos justificar o motivo pelo qual preferimos optar por outras possibilidades recreativas. Uma outra alternativa é estarmos presentes quando a criança assiste aos vídeos, acompanhando o tipo de conteúdos assistidos e restringirmos o tempo nessa atividade.
São escolhas que devem estar sempre apoiadas nos valores de cada família e no bem-estar emocional das nossas crianças.
Seguiremos pensando um pouco mais sobre estas questões.
Por hora, não vamos ter pressa… a infância é uma fase única, que não volta e na qual construímos bases importantes para a vida.
Os adultos somos nós, as orientações e as escolhas ainda passam por nós.
Vamos abrir o diálogo com as crianças, entender o que pensam, o motivo pelo qual desejam usar algo ou ter um contato frequente com o TiKTok, por exemplo.
Como menciona Iaconelli, em “Criar filhos no século XXI”:
“É fundamental que os adultos não se furtem a discutir com as crianças os assuntos com os quais elas tiveram contato, e não percam a oportunidade de transformar o material potencialmente traumático em algo passível de ser elaborado pela criança. Não existe a possibilidade de controlar toda a informação, mas existe a possibilidade de ajudá-las a fazer a crítica.”
As frustrações vão acontecer, mas não se preocupem, elas fortalecem e significam aprendizados importantes sobre como enfrentar conflitos e é essa a ideia principal quando falamos nas competências sócio-emocionais, que precisam ser vividas e não evitadas, sempre com valor de formação.