Por Mila Junqueira - Professora auxiliar do Grupo Azul - Educação Infantil da Escola Viva
Terra batida ou desenhada por poças em dia de chuva, verde como moldura, troncos e construções que aguçam a ação do corpo.
Animais que convidam ao toque e à curiosidade.
Território que se mostra amplo e que, ainda assim, assegura cantos e cantinhos para as brincadeiras miúdas.
É hora do quintalzão!
Apressados, correm meninos e meninas de todos os anos e vestidos com todas as cores. Prontos para se entregar ao brincar livre e às conexões com o outro. Brincar descalço e descabelado.
Organizam festas com docinhos e bolos de areia, sem esquecer de chamar os amigos e amigas na hora de acender a vela de galho e de cantar parabéns a plenos pulmões.
Brincar sério e calculado, que recorta o mesmo tanque com rios que correm e com represas feitas com a água trazida pela força do grupo de crianças-engenheiras que atravessam o tapete de barro ressecado para buscar matéria-prima na torneira do outro lado do espaço.
Operários que vão e que voltam, criando ferramentas para amenizar o peso do trabalho e a dor de cada viagem.
Brincar preciso e suado, que apresenta acrobacias no pendura-macaco, fazendo juntar público para assistir, enfeitiçado pela conquista do outro.
Brincar livre, que faz nascer em um a vontade de fazer igual ao outro, que ameaça desistir pela dificuldade, mas que, no entanto, não arreda pé. Segue em frente, tomando e diminuindo distância para se entregar ao novo, com mãos trêmulas e olhos concentrados tanto no fazer quanto em procurar o olhar seguro do adulto mais próximo.
Além de mostrar admiração e almejar as conquistas de um par, é ter resguardados, no mesmo chão, os cantinhos e esconderijos do tamanho de um, menores e só dele. É ter garantidas, no mesmo solo e ao mesmo tempo, a amplidão para olhar para fora e a possibilidade de se voltar para dentro, para si.
Que se transforma debaixo do brinquedão, na sombra de um arbusto, em cima de uma árvore, pertinho do jabuti na horta, ou ainda em tantos outros lugares quase secretos onde são formados os primeiros clubinhos.
Exercício de escolha, organização de espaço e tempo, seleção de matéria e materiais e, por fim, ação: subir, escalar, escorregar, peneirar, cavar, montar, jogar, construir, destruir, recomeçar.
Modos e ritmos que revelam sobre cada brincante. Brincadeiras e encontros que estruturam nossas crianças e que tecem uma malha encorpada e flexível da infância.
Um quintalzão que faz reverberar suas aventuras adiante: como a do menino do 2º ano, que vem com seus amigos chamar pelo novo aliado de brincadeiras no portãozinho do Azul.
Encontros que acontecem não apenas entre irmãos de diferentes idades, mas também entre antigos desconhecidos que agora compartilham a cumplicidade das trocas no chão da escola e se veem como companheiros de jornada.
Dá pra ouvir a troca de telefone entre as amigas da ponta, uma do Azul, o grupo mais novo da escola. E a outra do 3º ano, que aproveita seus últimos meses de tênis e meias cheias de areia.
"Me passa seu número pra eu te ligar?" E, de pronto, a azulzinha, que de pequena não tem nada, recita de cor e salteado o número da sua mãe. Ao que a mais velha pede: "Anota pra mim em um papel, por favor?", desconhecendo que a menor ainda não sabe escrever.
Se, em alguns momentos, as diferenças ficam evidentes, em outros, as semelhanças parecem fazer com que os tamanhos se equiparem.
É tanto brincar que poderia não caber no quintal, mas cabe, porque é Quintalzão-praça, central, pulsão-coração da Escola Viva.
Caminho de bom dia e de despedida. Chão que deixa marcas e que faz com que cada menino e cada menina levem consigo suas histórias.
E que na vida continuem fazendo quintais por onde forem: quintais para ver o outro e para descobrir de si!
E além dos muros da escola, com quais outros quintais podemos sonhar juntos?
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