ESCOLA VIVA

Quando e como começa o desfralde do meu filho(a)?

por Flávia Montagna -  Coordenadora Pedagógica de Educação Infantil da Escola Viva

O desfralde é um marco importante no desenvolvimento infantil, uma caminhada que traz  desafios, aprendizados e, claro, muitas perguntas para a família. Quando se aproxima o segundo aniversário, é natural começar a se perguntar:

"Quando e como começar o desfralde?”,

“Quando sei que meu filho(a) está preparado?".

Essas perguntas não são fáceis, nem temos uma receita de bolo para respondê-las.

Para começo de conversa, um dos princípios essenciais a ser considerado é o respeito pelo corpo da criança. O corpo é sagrado e complexo, e é fundamental que tratemos essa questão com a devida consideração.

O desenvolvimento infantil não segue um caminho linear e uniforme; ao contrário, cada criança possui seu próprio ritmo e história pessoais que precisam ser considerados.

Para responder a essas indagações e compreender melhor o desfralde, recorremos a  especialistas, como Judit Kelemen, Judit Falk e Emmi Pikler, pediatras especialistas no desenvolvimento infantil.

Afinal, o que o desfralde significa para a criança?

Até então o uso da fralda traz para criança uma liberdade danada! Ela é que decide como, quando e onde fazer suas necessidades, sem ter que parar nada que está fazendo. E, na maioria das vezes, quando está suja, logo uma pessoa muito próxima faz a troca, mantendo um momento de atenção individual.

Como querer largar tudo isso?

Para a criança, desfraldar significa:

  • abrir mão do alívio imediato e passar a controlar seus desejos;
  • parar o que está fazendo naquele momento;
  • aguentar a vontade até chegar ao banheiro;
  • avisar e procurar por um(a) adulto(a) para acompanhá-la.

Tarefa nada fácil!

Judit Kelemen nos traz uma fala fundamental:

"Todas as crianças, cedo ou tarde, adquirirão este controle de esfíncteres, mas é muito importante o caminho." 

Isso nos lembra que o desfralde não é uma corrida para atingir um destino, mas sim um processo individual. De fato, saber sobre quando o controle dos esfíncteres está pronto é um passo necessário, mas não o único.

Ela também nos ensina que o desfralde não se limita apenas à criança, mas também envolve o ambiente e o papel desempenhado pelo adulto.

Desde seu nascimento, a relação de confiança representa uma parcela significativa nesse processo. Saber o que esperar e confiar que o(a) adulto(a) de referência esteja lá é fundamental para o sucesso desse processo. Quanto mais sólida e positiva for essa relação, maior será a motivação da criança para querer assemelhar-se ao(à) adulto(a), usar o vaso e ter as mesmas aptidões que ele(ela). Afinal, eu gosto tanto dele(a), que quero fazer as mesmas coisas que ele(ela)!

Ao fazer o xixi ou cocô no penico, a alegria do adulto serve como incentivo, desde que não seja imposta como pressão.

A comemoração faz parte, mas a imposição e pressão, nunca.

A paciência é uma virtude essencial durante o desfralde, uma vez que é preciso aguardar pela iniciativa da criança e responder aos convites que ela faz.

E se escapar xixi e cocô no restaurante? Paciência!

Os escapes acontecem e são imprevisíveis! E é justamente nessas horas que as emoções desempenham um papel importante nesse processo, e é necessário lidar com elas de forma sensível.

A criação de um ambiente propício também é fundamental. Isso inclui a disponibilidade de um penico ou redutor de vaso, sem imposições ou pressões sobre a criança. A comunicação sobre o desfralde deve ser sempre positiva, garantindo à criança privacidade e estímulo encorajador.

Por fim, é importante compreender a diferença entre o processo natural e um processo que se assemelha ao de treinamento no desfralde. O processo natural permite que a criança perceba sua própria vontade, abrindo mão do alívio imediato em favor de fazer suas necessidades no local e nas condições apropriadas. A abordagem de treinamento, por outro lado, é mais direcionada pelo adulto, nem sempre sendo a mais eficaz. Quem controla a sua vontade de ir ao banheiro? Com a criança acontece a mesma coisa, só ela é capaz de controlar a administrar suas vontades!

Em resumo, o desfralde é uma jornada única para cada criança, guiada por seu próprio ritmo e vontade. Como adultos, nosso papel é criar um ambiente favorável, apoiar a motivação natural e responder com paciência e respeito.

Lembre-se de que o desfralde faz parte do processo de crescimento e, com o apoio adequado, a criança  logo dará esse importante passo.

Acredite na capacidade da criança, respeite seu corpo e confie no seu processo de amadurecimento.


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