por Thiago Pinheiro
Professor de Tecnologia e Inovação
Oficinas, espaços maker, laboratórios de fabricação digital, independentemente do nome adotado, quem vive o ambiente escolar percebeu o quanto essas salas vêm se tornando mais comuns na última década, juntando vários outros termos, como inovação, robótica, impressão 3D e corte a laser.
Quando se fala sobre tais espaços, normalmente se fala sobre outras possibilidades de formatos de aula, sobre metodologias.
Uma opção é utilizar a oficina como uma ferramenta para as diversas disciplinas. É evidente que as possibilidades desse espaço podem ser muito úteis para a montagem de experimentos de física, a materialização de conceitos matemáticos, a construção de maquetes ou mesmo ampliando o repertório de técnicas dentro das artes visuais.
Nessa visão, esse ambiente estende a sala de aula, proporcionando que novos conhecimentos técnicos auxiliem nos conteúdos escolares já tradicionais.
Outro caminho é o da interdisciplinaridade, que é comum nos ambientes que seguem a metodologia STEAM ou similares. Essa sigla em inglês destaca as áreas de ciências da natureza, tecnologia, engenharia, artes e matemática e, em muitos dos projetos realizados nos mais diversos currículos chamados maker, vemos aspectos técnicos dessas diferentes áreas combinando-se.
Na Escola Viva, para além dessas possibilidades, buscou-se desde 2018 desenvolver um currículo específico de tecnologia para ser trabalhado na sua oficina, sendo este formalizado na disciplina Tecnologia e Inovação.
As bases desse currículo vieram dos próprios movimentos que geraram os espaços makers e toda cultura por trás. Dentro das bases conceituais do movimento maker, duas são essenciais para se pensar sobre tecnologia hoje.
As cadeias de produção atuais são tão complexas que mesmo um trabalhador de uma indústria raramente entende todo o processo que gera o produto final. Essa alienação dificulta o questionamento do modelo atual de produção globalizado, do extrativismo predatório que o sustenta e da obsolescência programada necessária para suportar o consumo gerado pela produção e não pela necessidade humana.
O movimento maker olha para esse estado de alienação e questiona:
O que ainda pode ser construído em casa?
Quais são e de onde vêm as matérias primas necessárias para criar os objetos do nosso dia a dia?
Quais dos produtos que compramos podemos consertar em casa?
Aqueles que não somos capazes de consertar, isso acontece por uma escolha deliberada da empresa que o criou?
Na oficina, essas reflexões envolvem desde olhar para os objetos ao redor do estudante, identificar a matéria prima de que são feitos e descrever minimamente o seu processo de fabricação até a construção de máquinas que tenham o objetivo de parar de funcionar, como parte de uma discussão sobre os mecanismos usados para obsolescência programada e as razões da sua existência.
Ao analisar o movimento maker, fica evidente que sua existência dependeu e depende de diversas maneiras de compartilhar conhecimento. Da mesma forma que muito do conhecimento gerado dentro desses grupos foi acelerado pelas trocas de experiências e descobertas entre seus membros, assim é produzido todo o conhecimento humano e desenvolvimento tecnológico hoje.
É claro, quando se olha para qualquer avanço científico e tecnológico atual, que aqueles que participaram desse processo possuem um grande mérito, mas esse não teria acontecido sem milênios de acúmulo histórico de conhecimento gerado pela humanidade como um todo.
Apesar disso, o conhecimento não é totalmente livre, nem quando pensamos em quem tem acesso a ele, nem quando pensamos em quem tem oportunidade de participar da sua produção.
Dentro da escola, esse pensamento aparece desde o uso e produção de tutoriais, aproximando-se e compreendendo as formas de compartilhamento de conhecimento desse movimento, até a escolha do arduino para o ensino de programação, uma plataforma de prototipagem de hardware livre, distribuída sob a licença Creative Commons.
A produção tecnológica junta elementos das ciências da natureza com as ciências humanas, está nesse encontro do que o ser humano entende do mundo com o que ele cria para transformá-lo, e sempre foi essencial nas sociedades e responsável por muitas das transformações pelas quais essas passaram.
Com isso, diversas disciplinas discutem questões sobre o desenvolvimento tecnológico.
Dentro de um currículo crítico, a existência de uma disciplina específica para refletir sobre tecnologia ajuda a esclarecer que, como todos os aspectos da vida humana, o desenvolvimento tecnológico não é neutro. Não existe um caminho único para esse desenvolvimento, e o direcionamento deste depende de decisões políticas.
A partir de muitas das experiências de currículo maker sendo propostas, é possível imaginar que esse movimento tenha uma inspiração tecnocrata que pouco se conecta com uma proposta crítica de educação.
Porém, ao nos aprofundarmos nas bases conceituais do movimento maker, vemos que as oficinas criadas a partir dele podem contribuir de diversas formas no ambiente escolar, especialmente dentro de uma proposta de currículo crítico.
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