por Fernanda Catani - Professora especialista de Inglês da Educação Infantil e 1⁰ ano do Fundamental
Vivemos em um contexto de globalização crescente e ampliação da comunicação mundial. Nossas crianças podem ter contato com o mundo todo por um único clique. Nessa troca cultural, hábitos e tradições dos povos tornam-se conhecidos (e populares!) pelo mundo todo.
O Halloween, inicialmente relacionado aos Estados Unidos, nos últimos anos, tornou-se muito popular também no Brasil, e com isso o questionamento:
Por que, afinal, comemorar uma data que não tem relação com a cultura brasileira?
Com a presença massificante desta data em todo o nosso entorno, surge nas nossas crianças também o desejo de participar da brincadeira.
A escola, como lugar de reflexão, pode ignorar isso?
Ao comemorar o Halloween, estamos deixando de lembrar de mitos e lendas brasileiras, como o dia do Saci, comemorado no mesmo dia?
Estamos nos deixando dominar por uma cultura importada?
Como qualquer outro tema presente dentro dos muros da escola, precisamos pensar na contextualização dos eventos.
Nos últimos anos, durante o mês de outubro, encontramos ruas e lojas repletas de bruxas, monstros, fantasmas e outros seres “terríveis”. O Halloween que nos é apresentado parece ser cheio dessas fantasias assustadoras sem propósito, brincadeiras que estimulam o consumo de doces - como Trick or treat - e a exibição de abóboras iluminadas.
Entretanto, as características da festa de Halloween remetem a tempos longínquos, e a um lugar (pasmem!) bem distante dos Estados Unidos. As origens vêm de 2.000 mil anos atrás, de um festival celta chamado Samhain.
Os celtas viviam onde hoje é a Irlanda. O dia 1º de novembro marcava o começo do inverno e o final da colheita.
Vale lembrar que os celtas não eram os únicos a comemorar a colheita, vários povos pelo mundo também faziam festividades para marcar essa data, que era considerada um dos momentos mais importantes do ano. No Brasil, por exemplo, a nossa Festa Junina também tem origem em rituais de prosperidade das colheitas.
Os celtas acreditavam que a noite do dia 31 de outubro, véspera do início do inverno no hemisfério norte, era noite sagrada (holy evening, hallow evening e, mais tarde halloween). Os druidas, os mais sábios entre eles, faziam previsões do futuro, e o mundo dos mortos e dos vivos se entrelaçavam.
Para afastar e confundir os maus espíritos, as pessoas acendiam grandes fogueiras e vestiam-se com peles e máscaras de animais. Mas havia também os espíritos bons, com os quais as pessoas queriam se comunicar. Para guiá-los, os vivos faziam um caminho com rabanetes e batatas esculpidos (legumes comuns nas plantações locais na época).
As tradições mudam com o tempo, passam de povos para povos e são levadas quando os povos migram. Assim também aconteceu com o Samhain.
Quando os irlandeses chegaram aos Estados Unidos, levaram essa comemoração, que foi sendo adaptada à cultura local. Os rabanetes e batatas, por exemplo, deram lugar às abóboras, muito abundantes por lá.
Ao conhecer as origens do Halloween, percebemos que é uma festividade cheia de histórias e significados e que muitos deles, como a marca da colheita, misturam-se com as nossas próprias festividades.
Entender as diferentes culturas faz com que nossas crianças se tornem cidadãs do mundo, que respeitam e refletem também sobre a história de outros povos.
Dentro de um mundo globalizado, este é o caminho para a formação de pessoas críticas, cada vez mais ligadas e conectadas pela internet.
Neste ano, nas aulas de inglês da Escola Viva, em especial com os grupos da Educação Infantil e Fundamental 1, contamos a história das origens do Halloween.
Contextualizamos a festa como parte de uma celebração de algumas culturas, falamos sobre como cada cultura carrega lendas e histórias que falam sobre seus povos, e conversamos sobre as diferenças e semelhanças entre nossas festas e as celebrações de outros países.
Para acolher o desejo de viver o Halloween, marcamos com as crianças um dia especial. Durante as aulas de inglês, nos fantasiamos, fizemos maquiagens e brincamos.
As já conhecidas comidinhas feitas com elementos da natureza viraram poções mágicas, temperadas, na fantasia, com “aranhas”, “ratos” e “baratas”.
As corridas no quintal viraram corridas de revezamento com olhos de monstros e assim por diante…
Mas e nossas histórias e lendas brasileiras?
O fato de nossos alunos e alunas conhecerem outras festividades não exclui conhecerem também o nosso folclore.
Sendo assim, por que não trabalhar todas as histórias, cada uma dentro do seu próprio contexto?
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