Daniela Munerato, Coordenadora de Educação Infantil
É sempre assim: nos dias em que estamos mais cansados, com tempo reduzido ou lidando com algo inesperado do cotidiano, aparecem os assuntos delicados. O quê? A Momo? Se todo mundo vai morrer? Criança pode namorar?
Diante destas situações, precisamos pensar, dividir os olhares, refletir. Em primeiro lugar, a ideia é separar o pensamento do adulto e o pensamento da criança, com as perspectivas e preocupações de cada universo e contexto, que são muito diferentes.
O segundo passo é tentar compreender do que estamos falando: o que a criança quer saber, como soube ou onde ouviu sobre o assunto. E, neste momento, imaginamos o pensamento do adulto repleto de possíveis intervenções, memórias e medos que, provavelmente, viveram de quando criança. Vamos manter a calma. São crianças, e o caminho é responder exatamente o que elas perguntarem, com simplicidade, sem dar aulas e nem preocupar-se com a dúvida de que ela tenha ou não compreendido.
Então o que cabe ao adulto?
Cabe a presença, a escuta, o direito de dizer “preciso pensar em como vou te responder isso”; a maturidade de não dar ênfase, mas tratar com naturalidade o que chega, com o objetivo de abrir portas a este diálogo tão importante nas relações, com a mensagem de que somos alguém com quem a criança pode contar. Aqui, vale a ressalva, contar não como amigo, mas como figura de confiança e segurança, como aquele que dá a mão e segue junto, caminhando, não no colo, porque crescer é muito bom.
A criança conta com ferramentas para nos dizer como pensa e o que sente além das palavras em uma conversa, mas na brincadeira, no interesse por histórias da literatura e identificações com personagens. Questões que partem deles e de suas ações em um movimento de compreenderem cada vez melhor o mundo no qual vivemos. É importante que sigam pensando em busca da construção de conhecimentos que serão suportes emocionais e vão favorecer a autonomia: como possibilidade de pensar com argumentos.
Sim, os assuntos delicados vão chegar em casa e talvez na escola e, em cada fase do desenvolvimento, serão diferentes, despertando sentimentos e curiosidades. Na escola, o trabalho será feito em parceria com as famílias, já que as “rodas de convívio” são bons suportes, quando não falamos, por exemplo, de sexualidade em si, mas de intimidade, do espaço, do corpo de cada um e do respeito ao outro. Não precisamos falar da Momo especificamente, mas dos medos, do que é real ou não e da importância da presença dos adultos nas escolhas do que a criança pode ou não assistir ou acessar na tecnologia.
Se estas questões representam conflitos, vamos considerar que são bastante positivos e podem ser disparadores para acompanharmos este desenvolvimento. Vale lembrar que as crianças podem ouvir na rua, na escola ou na casa de um amigo, assuntos que despertem dúvidas, mas o porto seguro será sempre a casa e a família, com a força dos valores construídos em cada âmbito e que devem ser a base para explicações.
Que os assuntos delicados possam favorecer, além de tantos outros momentos, a proximidade das crianças, sem julgar ou desejar controlar, no sentido de orientar, ouvir e refletir sempre: esta será a principal aprendizagem!