por Angela Maricato - professora polivalente do 5º ano, Atelierista de Linguagem de 4º e 5º ano e mãe de uma aluna do F2.
A literatura é uma conversa com os nossos silêncios. É uma força catalisadora da existência humana, pois possui um papel fundamental em promover a abertura de espaço em nossos mundos internos, construindo um diálogo entre os sentidos, ao que sentimos. E as formas pelas quais um texto abre espaços em nossos mundos são inapreensíveis.
O amadurecimento é o tempo de não reconhecermos os silêncios que nos habitam e que sabíamos ouvir. É o momento em que surgem em propulsão, novos silêncios. As vozes conhecidas se calam, para que surjam outras.
É quando aprendemos que os nossos mundos internos são bem mais amplos do que imaginávamos. A única certeza que temos, quando estamos na fase de transição da infância para adolescência, é que nossos silêncios gritam e ecoam dentro de nós, e a busca é incessante pelo entendimento dessa catarse de emoções. A compreensão muitas vezes se faz a partir do acesso às camadas mais profundas. Lá onde tudo é muito forte. Denso. Intenso. Profundo. Dói. Sentimos muito. Mas nos faltam muito sentidos.
“Desisto da ideia. Tenho medo de morrer sozinha.” (Trecho do livro “Sozinha”, de Keka Reis).
E assim, Keka Reis fez os leitores encontrarem maneiras de se escutarem novamente. O livro “Sozinha” ofereceu a possibilidade de viver o tempo da elaboração, da profundidade das perguntas e das respostas. Ou não.
Entre os grifos do livro e as anotações marginais, um diálogo era construído ofertando a possibilidade de sentido, do que não é compreendido por um leitor nesta idade. As mais densas camadas dessa jornada, que é o crescer, iam ganhando novas vozes. E essas vozes escritas no texto construíram pontes de possíveis entendimentos sobre as transformações subjetivas.
“O assunto do livro é muito forte. Mas a Keka escreveu isso de uma jeito que a gente consegue entender. Ela consegue dizer em palavras o que a gente está sentindo.” (Trecho da anotação de uma leitora).
O livro, que traz a morte como tema, narra a vida de uma adolescente. Que sente e ressente a morte da mãe, com todas as dores e amores desta relação tão complexa. A história atravessou as fronteiras dos medos, fazendo-os emergir das camadas mais profundas do SER. Crescer. Amadurecer.
Os leitores fizeram uma grande travessia literária. Transpuseram a fronteira da literatura que até então era açucarada, encantadora e lúdica que os levava para grandes aventuras. Não que tenha deixado de ser. Há uma ponte. A travessia para ambos os lados é sempre possível no campo literário. Essa construção se dá de forma única, é própria de cada leitor e não uma que seja igual a outra.
Mas amadurecer é entender que a literatura, enquanto arte, toca as fibras da alma. É um portal que nos oferece acesso a nós mesmos.
Compartilhe ou salve para depois:
Siga nossas redes sociais - Instagram, Facebook, Youtube, Flickr e Linkedin.
Baixe o ebook: Leituras para Educar