ESCOLA VIVA

Múltiplas linguagens e Ciências da Natureza

Sonia Tokitaka

Assessora da área de Ciências da Natureza e Sustentabilidade

Verbal, escrita, sonora, visual, digital, corporal estão entre as formas de linguagens utilizadas para expressarmos ideias, informações, sentimentos, percepções… 

Com elas compartilhamos vivências, interagimos, produzimos sentidos, interpretamos a realidade, nos entendemos ou conflitamos. 

Essa multiplicidade comporta ainda linguagens específicas, geradas pelas áreas do conhecimento, como a artística, a matemática, a científica, cada qual com diferentes modalidades. Esse conjunto articulado se reflete na nossa capacidade de leitura e compreensão do mundo e nos usos sociais que fazemos delas. 

Justifica-se, portanto, que a utilização das diferentes linguagens seja uma competência que precisa ser desenvolvida ao longo da educação das crianças e jovens. Certamente não é tarefa que compete a uma única disciplina isoladamente, mas que a escola desenvolve pelo seu conjunto, em todos os níveis da educação básica.

Ciências da Natureza: envolve uma só linguagem? 

A área das Ciências da Natureza usa de linguagens específicas para representação, comunicação e divulgação do conhecimento científico. 

Dela fazem parte nomenclatura, símbolos e códigos próprios, grandezas e unidades específicas, que se articulam em diagramas, gráficos, equações, esquemas…  

Essas construções características da área estão hoje parcialmente incorporadas à comunicação de forma geral, são usadas em análises de diferentes âmbitos e circulam em outras esferas, que não as estritamente científicas. 

O domínio dessas linguagens é importante, não apenas para nos aproximar dos conhecimentos das disciplinas componentes da área, mas também por terem um sentido mais amplo, considerando-se a forma como atualmente a ciência contemporânea e as inovações tecnológicas permeiam a vida social.

Ter mais conhecimentos científicos permite tomar melhores decisões no âmbito particular e coletivo, favorece a participação social, dá suporte para o desenvolvimento de opiniões e diálogos sobre questões que afetam a nossa vida e o planeta. 

Conhecer, dialogar e atuar são ações que envolvem familiarizar-se com o fazer científico e seus processos, entre eles identificação de problemas, debates, argumentações lógicas, busca de consensos. 

Não se trata então apenas de conhecer e fazer uso adequado de nomenclatura, símbolos e códigos; há outras dimensões da linguagem científica relacionadas, um conjunto de outras habilidades envolvidas, 

E o papel da escola? 

Na Escola Viva, reconhecemos que a educação científica é um processo permanente, que deve acontecer ao longo da vida e, embora não seja tarefa exclusivamente da escola, seu papel é imprescindível.

Entendemos que nos compete assegurar aos alunos e alunas:

- o acesso à diversidade de conhecimentos científicos produzidos ao longo da história;

- a aproximação gradativa aos principais conceitos, processos, práticas e procedimentos da investigação científica;

- a compreensão das relações que se estabelecem entre ciência, tecnologia, sociedade e ambiente;

- a compreensão da natureza das ciências e dos fatores éticos e políticos relacionados em sua prática.

Essa perspectiva, a alfabetização científica, tal como definida por alguns autores, embasa a finalidade do ensino de ciências na nossa escola. 

Como isso se materializa?

A investigação no centro da formação em Ciências da Natureza.

Informar-se, argumentar logicamente, aceitar ou refutar argumentos, comunicar-se, usar adequadamente nomenclaturas e outros recursos de comunicação da área são competências que se constroem em ação.

Do ponto de vista pedagógico, o processo investigativo é a forma como a concepção da aprendizagem como processo construtivo, a concepção de ciência e finalidade da educação científica se articulam. 

Um ensino de ciências com foco no desenvolvimento de ferramentas e habilidades que possibilitem investigação, resolução de problemas, expressão e comunicação.

As práticas científicas criam as possibilidades para que os estudantes se aproximem mais do “fazer científico” e compreendam melhor os aspectos envolvidos na produção destes conhecimentos: fazer perguntas, planejar formas de respondê-las, considerar hipóteses e testes, analisar variáveis em jogo, construir explicações, discutir, compartilhar resultados das investigações e comunicá-las, trabalhar de forma colaborativa.  

Múltiplas possibilidades

Há uma diversidade de formas possíveis das práticas investigativas acontecerem na escola, mas têm em comum a resolução de problemas, os modos de interação entre alunos, alunas, professores e materiais e a liberdade intelectual dos estudantes. 

Nessa medida, não se restringem a atividades desenvolvidas no laboratório, nem se confundem com atividades “práticas” rigidamente estruturadas que devam ser reproduzidas pelos estudantes. Muitas atividades didáticas podem se tornar investigativas e podem acontecer em espaços diversificados, como a sala de aula, espaço maker, atelier, espaços externos, dentro e fora da escola.


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