por Daniela Munerato e Kátia Keiko - Coordenação Pedagógica da Escola Viva
A curiosidade e a investigação no mundo pertencem à infância. Nossas crianças exploram, observam, convivem, brincam, participam, expressam, conhecem, refletem, entre tantas outras ações.
Neste contexto, existem experiências inesquecíveis. Citamos aqui o encantamento de uma criança na descoberta do desenho: inicialmente a criança explora os movimentos, e o desenho é um jogo motor. Ela nem sabe ao certo se os traços que produz saíram de suas mãos, dos riscadores ou se estavam escondidos no papel. Quando percebe que a sua ação produz uma marca, o desenho passa a ser uma forma de representação e expressão. Ele vai sendo aprimorado, apreciado, modificado, em função de focos investigados pelas crianças: linhas, cores, formas, ocupação de espaços e dimensões.
Aos poucos, as crianças compreendem que o desenho também pode ser um registro, e que há no mundo adulto um "desenho" diferente - outro sistema de representação - que é lido pelos adultos e crianças com o seguinte mistério: qualquer pessoa que ler compreenderá a mesma mensagem, dirá as mesmas palavras. Descobrem tal mistério nos livros de história, por exemplo, nos bilhetes, nas receitas, nas escritas que compõem seu universo de forma significativa.
É comum que as crianças imitem os adultos, escrevendo "minhoquinhas" (pelo movimento observado enquanto alguém escreve), revelando em suas brincadeiras a importância de escrever para não esquecer, num faz de conta de restaurante ou médico, por exemplo, para retomar e continuar uma pesquisa de um tema de interesse do grupo ou para comunicar algo, com bilhetes ou placas de sinalização na escola. Assim, no uso social e cotidiano, vão compreendendo a função da escrita.
Um ponto fundamental nesta reflexão é o papel do professor ou da professora no processo de construção. É ele(a) que planeja boas atividades, perguntas e propõe intervenções que favoreçam sempre o diálogo entre a oralidade, a leitura e a escrita. Isso faz a criança avançar em suas hipóteses.
Vamos voltar às escritas das "minhoquinhas"? Neste momento a preocupação da criança é imitar o adulto e dizer que sabe sobre a escrita, que ela existe e tem uma função. Mas dessa forma não conseguimos ler, porque para escrever e conseguir recuperar, precisamos usar letras (isso não significa que as crianças precisam saber o nome das letras/alfabeto como primeiro passo, mas que precisam saber da necessidade do uso de letras para escrever, mesmo que ainda não saibam quais).
Então, trabalhamos com situações em que precisamos realizar leituras e escritas de palavras que se tornam referências para outras escritas, palavras que as crianças vão usar para refletir como se escreve, como o nome das crianças, palavras da rotina ou ainda palavras que sejam importantes nas pesquisas do grupo. Mariana, por exemplo, pode ajudar a escrever “macaco”. E diante deste novo desafio (escrever com letras), as crianças precisam pensar em outros critérios para escrever, sobre os quais seguirão pensando progressivamente até alcançarem uma escrita convencional.
Algumas das questões interessantes que pensam são: o tamanho mínimo de uma palavra, a relação da palavra com a escrita (formiga deve ser uma palavra pequena, porque formiga é pequena), depois quais e quantas letras, estabelecendo a relação do que se escreve com o que se ouve, até que chegarão aos desafios das pontuações, ortografias e as elaborações de textos no próximo segmento.
Além de promover boas situações para que as crianças elaborem, reflitam e avancem em suas hipóteses sobre a escrita, é muito importante que tenham momentos de fruição literária e explicitem seus pensamentos e sentimentos por meio da fala.
Na Educação Infantil é fundamental ter muito contato com a boa literatura (contos clássicos e contemporâneos, poesias). A escola é o lugar em que as crianças terão acesso ao patrimônio cultural da humanidade e, portanto, quanto mais diverso for o “cardápio de leitura”, mais possibilidades de ampliar seu conhecimento de mundo e mais elementos para formar bons leitores e escritores teremos.
E, para terminar, fica a indicação do livro "A formiga Aurélia e outros jeitos de ver o mundo", um conto de tradição oral do oriente, escrito pela autora Regina Machado, que conta a história de uma formiga que descobre alguém escrevendo.
Vocês podem imaginar a interpretação dela?
Ótima leitura para vocês e para as crianças.
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Projetos de vida: como a escola pode ajudar jovens estudantes a construírem seus futuros
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