por Michael Filardi, Coordenador Pedagógico (Fundamental 2 da Escola Viva)
Provavelmente muitos e muitas de vocês lerão este texto enquanto estaremos em um estudo do meio com uma turma de Fundamental 2 da Escola Viva, no Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (PETAR), e com uma turma, do Ensino Médio, em outro estudo na Enseada da Baleia, Cananéia, vivenciando roteiros tão clássicos quanto ainda inéditos e encantadores para muita gente.
Em situações como esta, acredito que vale citarmos o dramaturgo Bertolt Brecht, quando diz:
“Sob o familiar, descubra o insólito; sob o cotidiano, destaque o inexplicável. Que possa toda coisa dita habitual lhe inquietar. Na regra, descubra o abuso. E em toda parte onde o abuso se mostre, encontre o remédio.”
Ou ainda, outra citação de que gosto muito, da ambientalista norte-americana Rachel Carson:
“Se uma criança deve manter vivo seu sentimento inato de admiração e de maravilhar-se, ela precisa da companhia de pelo menos um adulto que possa compartilhá-lo, redescobrindo em si mesmo e com a criança, a alegria, a emoção, o encantamento e o mistério pelo mundo em que vivemos.”.
O aprender pela experiência sempre me fascinou. Desde os tempos em que eu era estudante do Ensino Básico. Obviamente que na época eu não tinha a menor ideia de quem foram os grandes educadores John Dewey, Anísio Teixeira, Seymour Papert ou nem mesmo Paulo Freire ou Jean Piaget. Muito menos conhecia a nomenclatura “Estudos do meio” ou “Atividades de campo” e toda sua diversidade e complexidade conceitual. Porém, os anos se passaram e, por desejo e vocação, tornei-me professor de Ciências da Natureza e Biologia, áreas do conhecimento intimamente ligadas ao estudo do território e às relações que permeiam o ambiente.
O fascínio infantil pelo “aprender pela experiência” amadureceu, tornando-se uma necessidade pedagógica em minha prática com estudantes, sejam da idade que for. Nesse âmbito, além de promover o máximo de atividades práticas no dia a dia das aulas, notei que os estudos do meio e oportunidades extraclasse são excelentes momentos para que se exerça, de acordo com as ideias de Dewey, uma
“experiência na medida em que se assenta numa conexão entre a experiência pessoal e a aprendizagem, tendo em vista o alargamento progressivo da primeira”.
Também parto do princípio de que não estamos além ou aquém da natureza, o que, portanto, não nos torna inferiores ou, principalmente, superiores a ela. Ainda que, em termos geológicos e evolutivos, sejamos somente uma frágil e “recente” espécie, - portanto uma quase insignificante parte integradora desse amplo e complexo meio natural - nossa participação não passa nada despercebida, para bem ou para mal.
É necessário considerar estudos do meio não somente as experiências ao ar livre, em meio natural, como florestas, campos, parques etc. Estudos do meio são situações investigativas que promovem experiências integradoras das múltiplas dimensões do desenvolvimento – dimensões física, cultural, emocional, intelectual e política – nos mais diferentes contextos em que ocorrem.
Dessa forma, é possível estabelecer vínculos pedagógicos significativos e profundos entre seres humanos e o ambiente que os rodeia para os vários tipos de objetivos de investigação. Esse senso de pertencimento é fundamental para que haja um maior sentido dos estudos extraclasse e para que se explorem com profundidade algumas relações inter, intra e transdisciplinares específicas nos momentos prévios, durante e após um estudo do meio.
Assim sendo, por mais óbvio que pareça, há de se focar o olhar, de forma atenciosa e cuidadosa, para o papel que o(a) estudante exerce ao longo de todo o percurso de sua própria aprendizagem.
Estudar em campo é isso: um cuidadoso planejamento prévio para uma metodologia específica, com atividades pensadas para antes, durante e depois da saída. É, principalmente, estranhar-se antes de ir, encantar-se com as expectativas e incertezas misteriosas do pré-estudo e, em campo, manter o olhar atento, a caderneta de campo em mãos para as distintas e fundamentais formas de registro (por exemplo, escritos, ilustrações científicas, artísticas, como poemas etc.) e se deleitar durante o processo de estudo ativo.
De maneira dedicada, lúdica, viva e sensorial, é vivenciar cada momento da experiência prática como ele realmente é: única, integradora de diversas dimensões humanas e irreversível!
Na volta à escola, todo o aprendizado deve ser sistematizado com momentos de compartilhamento, reflexão e organização dos novos saberes. As atividades propostas devem favorecer a participação ativa dos(as) estudantes na construção dos novos conhecimentos e permitem também que, em suas vivências, exercitem competências sociais, culturais, emocionais e atitudes como responsabilidade, autonomia, respeito, cooperação, resiliência, solidariedade e tolerância.
Além do papel da escola de promover as melhores condições para que experiências desse tipo se concretizem, deixamos o convite para que as famílias, dentro de suas possibilidades, possam também oferecer oportunidades de exploração e vivência no meio que os(as) rodeia, com visitas a Parques Nacionais e outras Unidades de Conservação, idas a Museus e Exposições, caminhadas exploratórias pelo bairro e pela cidade etc.
Afinal, como diria o filósofo e educador Rudolf Steiner:
“ao conhecer o mundo, o ser humano encontra a si próprio e, conhecendo a si próprio, o mundo se revela a ele.”
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- Eletrônicos no contexto escolar: ajudam ou atrapalham?
- Educação integral – afinal, o que ganham as crianças ficando mais tempo na escola?
- O desafio nosso de cada dia - como fazer dos conflitos algo positivo para o desenvolvimento de nossas crianças?
- Queremos você ao nosso lado
- Atividades complementares em uma Escola que é Viva
- No quintal tem um pé de livro