por Susanna Oliveira - Estagiária de Arte da Escola Viva
“Criando um outro” foi o título escolhido para a Proposta Integrada (P.I.) de Teatro pelos alunos e alunas do 4º e 5º anos do Ensino Fundamental da Escola Viva.
Nossos encontros contam com preparação corporal, jogos teatrais, criação de cenas e conversas sobre as práticas.
Me preparar para fazer e refletir sobre o que fiz.
Defender o Teatro na escola não é tarefa difícil.
A cada encontro, é possível perceber a linguagem teatral fazendo sentido tanto para aqueles que a experienciam pela primeira vez quanto para os que já tiveram algum contato.
Podemos tecer relações entre as práticas já conhecidas e o que é novo.
Primordialmente, só existe teatro se há alguém fazendo e um outro alguém assistindo.
Durante as aulas, a necessidade do “outro” passa a ter sentido quando pensamos na cena. Aprofundando o contato com as práticas, é possível ampliar a necessidade do outro como uma sabedoria para a vida.
Num momento de tanto individualismo intensificado pelo mundo digital, tomar consciência da necessidade de se relacionar faz diferença nos modos de existir.
Não nos olhamos nos olhos, não percebemos o que está ao nosso redor, não damos tempo para que o que acontece nos afete.Somos consumidos pelo modo automático.
(Ilustração de Odilon Moraes no livro livro “Os Invisíveis” de Tino Freitas)
Se não as relações, o quê?
O que há de mais humano do que relacionar-se?
O teatro pode ser um convite à humanização.
O convite à pausa pode parecer desafiador.
Repousar o olhar sobre a sua respiração, sobre como os seus pés tocam o chão. Perceber o corpo depois de uma manhã sentado tendo aulas. Ter espaço para rolar no chão. Ouvir bastante e gritar quando couber.
Aos poucos, compreender que, ali, no palco, tudo é possível.
Poder construir esse espaço de criação e reflexão dentro da escola com os estudantes de 4º e 5º anos e com o Carlos, também estagiário de Artes, tem sido muito precioso.
Dentro da aula de Teatro, os saberes partem do respeito - pelo espaço, pelo corpo, pelo outro, e especialmente, por você mesmo.
Quanto de autoconhecimento não mora aí?
Acessar os próprios desejos, reconhecer a natureza do desejo e dosar quando cabe realizá-lo e quando não. Saber que, ali, quando um perde, todos perdem.
Perceber que certo e errado são pontos de vista. Perceber que uma história tem 2, 3, 5 ou até 10 lados.
Questionar. Aprender a duvidar. Aprender a escolher.
Para mim, não há como separar o fazer teatral do autoconhecimento.
Pessoas sensíveis e inteiras em si podem escutar os ambientes, as pessoas, as situações e escolher como agir sobre elas, ou não.
Além do desenvolvimento pessoal, há uma potência dentro do teatro, talvez a mais conhecida, que é: relacionar-se criticamente com os assuntos do mundo e pensar novos mundos, imaginar. Imaginar é muito poderoso.
Podemos pensar sobre tudo através dessa linguagem. Podemos imaginar novas soluções para problemas antigos e esperançar novos caminhos.
O teatro tem matéria prima Humana. Ele nos obriga a estar diante de outro ser humano e isso é valioso. Ser ator é ser um Ser Humano profissional.
“Vejam bem o procedimento desta gente:
Estranhável, conquanto não pareça estranho
Difícil de explicar, embora tão comum
Difícil de entender, embora seja a regra.
Até o mínimo gesto, simples na aparência,
Olhem desconfiados!
Perguntem
Se é necessário,
a começar do mais comum!
E, por favor, não achem natural
O que acontece e torna a acontecer
Não se deve dizer que nada é natural!
Numa época de confusão e sangue,
Desordem ordenada,
arbítrio de propósito,
Humanidade desumanizada
Para que imutável não se considere;
Nada.”
(BRECHT, A Exceção e a Regra, 1929/30).
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