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Comitê Antirracista: para onde vamos a partir daqui?

Escrito por Escola Viva | 19 de Novembro de 2024

por Fernando Cardoso - Coordenador Pedagógico do Fundamental 1 e Orientador Educacional do 6° ano da Escola Viva

IMPROVISO

 “Muitas vezes, o que

falamos

é um espelho

dos acontecimentos

Mas, às vezes,

os acontecimentos

são

tão inesperados

 

que não temos

palavras para eles.

 

Então, como fazer

para colocarmos

os fatos

em palavras?

 

Quem vai ao jongo

entende.

Quem sabe disso

tem cabeça.

 

Para dizer o indizível

usa-se o improviso.”

 

(Edimilson de Almeida Pereira - Poemas para ler com palmas)

 

Criado oficialmente em 2022, o Comitê de Educação Antirracista da Escola Viva - atualmente formado por integrantes da equipe e das famílias - se reúne, discute, reflete e estuda tópicos importantes e urgentes, sempre com o objetivo de refletir sobre o racismo estrutural e implantar uma Educação Antirracista no ambiente escolar.

Ao longo da sua existência, o Comitê realizou algumas ações pautadas em questões norteadoras, como por exemplo: 

  • Como transformar a Escola Viva em uma escola preparada para combater a discriminação racial?
  • Como oferecer às nossas crianças e adolescentes uma educação mais humanista e inclusiva?

Algumas ações efetivas já foram realizadas, mas sabemos que ainda há um longo caminho pela frente. E que fique registrado: não vamos desistir!

O caminho trilhado em 2024

Começamos nossos encontros em 2024 com dois integrantes do Comitê compartilhando a experiência imersiva que tiveram em Salvador - BA no ano anterior.

A imersão fez parte da trilha formativa: 

Entre o Remendar e o Tecer: a costura de pensamentos e práticas para uma educação antirracista”, do Centro de Formação da Vila.

Fernando e Laura compartilharam as aprendizagens da experiência imersiva com os demais integrantes do Comitê, destacando as oficinas pedagógicas vivenciadas, as visitas realizadas em organizações formais e não formais de educação (públicas e privadas) que desenvolvem trabalhos de referência na promoção da educação para as relações étnico-raciais, e também as atividades culturais que promovem a ampliação de repertório sobre as contribuições do povo negro para a formação social, política, científica, econômica e cultural do Brasil que conheceram por lá.

Inspirados pela apresentação e pelos relatos de experiências sobre a imersão, o Comitê Antirracista convidou alguns profissionais da Escola Viva para participar das reuniões do Comitê, com formações que visavam à reflexão sobre a concretização de um currículo antirracista. 

Foram elas e ele:

Gisele Milani, nossa assessora na área de Música, para conversar sobre o racismo e a educação antirracista na música

Sonia Tokitaka, nossa assessora em sustentabilidade, para refletir sobre o racismo ambiental.

Carolina Mennocchi e Taís Mathias, da equipe de Bibliotecas Viva, para pensar sobre o racismo e a educação antirracista na literatura.

E Flávio Tito, professor de História na Viva, para compartilhar aspectos relevantes da História numa perspectiva não eurocentrada.

A cada encontro, um infinito de saberes compartilhados e o desejo crescente de ver na prática algumas transformações necessárias. 

Com as famílias do Comitê cada vez mais engajadas e parceiras, com a equipe inspirada e com o compromisso de ampliar aquilo que aprendeu, e com todos e todas determinados a potencializar a Educação Antirracista na Escola Viva, o que antes era discussão e teoria, se revelou em práticas de ensino-aprendizagem para toda a comunidade escolar.

Como exemplo, temos o lindo o projeto “Qual é a sua cara de espelho?”, dos professores Giulia Valadares e Rodrigo de Paiva Correa, desenvolvido com estudantes do 4° ano dos anos Iniciais do Ensino Fundamental e compartilhado com diversos educadores do Brasil no Painel de Práticas do Centro de Formação da Vila.

O TRONCO

 

“Ninguém fica de pé

se não tiver

o meio.

 

O meio depois do início.

O meio antes do fim.

O meio no meio do meio.

 

Ninguém fica firme

se o tronco

não segurar a cabeça e o pé.

 

Ninguém vai ao fim

nem ao começo do mundo

se não tiver meios.

 

O tronco no meio do corpo

faz o capoeira

bater pernas, palmas e pé.”

 

(Edimilson de Almeida Pereira - Poemas para ler com palmas)

Porque aprender nunca é demais!

Ao longo do ano, contamos também com a assessoria da professora Sheila Perina em nossas reuniões pedagógicas com a equipe docente. Foram encontros potentes com foco na educação e nas relações étnico-raciais, que potencializaram o desejo e a necessidade de rever o nosso currículo, de refletir sobre possibilidades e novas perspectivas…

Contamos também com uma formação para toda a equipe administrativa da Viva, com o Fábio Conceição, gerente do Núcleo de Diversidade e Inclusão da Bioma Educação. O encontro foi uma grande oportunidade para aprofundar conhecimentos de todos e todas que compõem a equipe Viva e reforçar o nosso verdadeiro compromisso com uma Educação Antirracista.

Outro destaque foi a assessoria entitulada: “Percurso para a construção de um currículo antirracista”, com a professora Silvane Silva, coautora do Currículo da Cidade: Educação Antirracista: orientações pedagógicas: povos afro-brasileiros, promovido pelo Centro de Formação da Vila, da qual participaram também os gestores da Escola Viva.

Bianca Laurino e Fábio Conceição, do Núcleo de Diversidade e Inclusão da Bioma Educação, compartilharam com a equipe gestora um Guia de Boas Práticas para Contratações Afirmativas da Bioma Educação, que, ao longo de suas 25 páginas repletas de referências robustas, dados relevantes, hiperlinks e muito desejo de transformação, destacou duas orientações gerais:

  • Estimular e garantir a participação de pessoas negras (pretas e pardas) em todos os processos seletivos da Bioma Educação e nas escolas do grupo;
  • Priorizar a contratação de pessoas negras e indígenas na Bioma Educação e nas escolas do grupo.

Gestores da nossa equipe participaram de cursos e formações durante o ano letivo:

  • Educação antirracista nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, com Clarissa Brito. A formação oportunizou um mergulho em referenciais práticos e teóricos que permitem aos educadores acessar elementos para escolhas pedagógicas engajadas com antirracismo. Tornou tangível o que está posto como diretriz nesse segmento que é a implementação responsável da  Lei 10.639, que torna obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira e fomenta a reconstrução das relações raciais no ambiente escolar.

  • Descolonizando o ensino: integração da Legislação Educacional e práticas pedagógicas insurgentes, com Eduardo Russell. O curso apresentou uma abordagem inovadora que visa não apenas promover uma educação mais inclusiva e diversificada, mas também engloba uma perspectiva decolonial. Entendendo a decolonialidade como uma epistemologia que concentra as discussões sobre outras pautas minoritárias e reconhece que lutar contra a colonização é uma forma de lutar contra as opressões.

E mais

E nosso Comitê também estudou, refletiu e discutiu bastante, sempre buscando a ampliação do letramento racial de todos e todas. Com destaque para o texto: Afrocentricidade como Crítica do Paradigma Hegemônico Ocidental: Introdução a uma ideia. Autor: Molefi Kete Asante. Tradução: Renato Nogueira, Marcelo J. D. Moraes e Aline Carmo.

O texto explora as ideias principais da afrocentricidade, um paradigma que busca reafirmar a centralidade da experiência africana na história mundial, em contraste com a visão eurocêntrica dominante. 

Ao longo do texto, há importantes reflexões sobre a hegemonia cultural e econômica europeia que marginaliza e inferioriza a África e os africanos. Afinal, a afrocentricidade coloca os africanos como agentes de sua própria história, em oposição à narrativa que os retrata como vítimas ou objetos passivos. 

Trata-se de uma busca para reescrever a história mundial a partir da perspectiva das civilizações clássicas africanas, como as do Vale do Nilo (Núbia e Kemet). 

Essa abordagem destaca as contribuições africanas para a humanidade, desafiando a visão eurocêntrica que coloca a Grécia e Roma como o berço da civilização. E propõe uma ressignificação da História da Diáspora Africana, causada pela escravidão e pelo colonialismo, como um processo de resistência, adaptação e transformação cultural, sem negar os traumas e as injustiças sofridas. 

Ou seja, a afrocentricidade propõe uma mudança de perspectiva, reposicionando a África e os africanos no centro da narrativa histórica global. 

Essa mudança de paradigma busca descolonizar o conhecimento e promover uma visão mais justa, equilibrada e inclusiva da história da humanidade.

Onde estamos?

Atualmente, o Comitê Antirracista está analisando os Indicadores da qualidade na educação: relações raciais na escola. Denise Carreira, Ana Lúcia Silva Souza. São Paulo: Ação Educativa, 2013. 

O objetivo é definir coletivamente diretrizes e encaminhamentos possíveis para avaliar as nossas práticas pedagógicas e descobrir novos caminhos para a construção de uma efetiva Educação Antirracista.

Na reta final deste balanço de ações do Comitê Antirracista, pode parecer que muitas coisas já foram realizadas, mas temos convicção de que, na verdade, ainda há muito o que ser feito.

Provavelmente, você está lendo este texto próximo do dia 20 de novembro, que marca o aniversário da morte de Zumbi dos Palmares e celebra o dia da Consciência Negra.

Certamente, acontecerão algumas ações próximo a este dia (antes ou depois) em nossa Escola e em muitas outras para celebrar a importância da data, mas já faz um tempo que nosso trabalho com a perspectiva antirracista permeia o nosso cotidiano escolar durante todo o ano letivo e não se resume a uma semana apenas. 

Que tal se juntarem a nós?

Para onde vamos, a partir daqui?

Romper com o racismo exige coragem e intencionalidade. A quebra não é, por definição, passiva ou complacente. 

Então, respondendo à pergunta “para onde vamos, a partir daqui?”, frequentemente sugiro nunca considerar concluído nosso aprendizado (Robin J. Diangelo, 2018 - Livro: Não basta não ser racista, sejamos antirracistas). 

Para participar, tirar dúvidas ou propor sugestões para o Comitê Antirracista da Escola Viva, escreva pra gente - comite.antirracista@escolaviva.com.br.

Sejamos antirracistas!

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