por Flávia Montagna, Coordenadora Pedagógica de Educação Infantil, e Camila Melo, Nutricionista Restaurantes e Cantinas
Alimentação não é somente a ingestão de nutrientes. Alimentação é a forma como nós começamos a perceber o mundo.
Alimentação é conexão, história, memória. Por isso, é fundamental estarmos mais próximos dos ciclos naturais e conhecer o caminho que o alimento faz até chegar à mesa.
A relação com a alimentação começa na infância, e bons hábitos adquiridos desde o início podem perdurar por toda a vida. Além disso, as crianças podem ser vetores de uma transformação ao promoverem a educação alimentar em suas casas, motivando também um impacto positivo no mundo.
Fazer da alimentação uma extensão da sala de aula é muito importante. Na Escola Viva, acreditamos que esse tema deve ser tratado de forma leve, não tornando o ato de se alimentar um momento que traga medo e ansiedade.
Seja no almoço ou no lanche, a escola tem o desafio de proporcionar opções que conjuguem composições saudáveis e, ao mesmo tempo, proporcionem uma refeição prazerosa, capaz de criar significados que deixem marcas na história de cada criança.
Alinhados aos conceitos da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), é nossa responsabilidade ampliar o conhecimento, o repertório cultural, o pensamento científico, criativo e crítico, o autocuidado, o autoconhecimento, o protagonismo e a cooperação. Sendo assim, construir a relação da criança com a alimentação não é diferente.
Na Escola Viva, desde os grupos Amarelinhos (crianças de 1 ano), a prática de cozinhar em grupo está presente no dia a dia. Escolher os ingredientes, trazê-los de casa, preparar, partilhar e compartilhar uma refeição com as mãos de todos e todas é ato pra lá de especial.
Além da fascinação pela transformação dos alimentos, da pesquisa e investigação das ações que estão por trás do cozinhar, compartilhar uma refeição também não diz respeito só ao ato de se alimentar. Michael Pollan, jornalista e autor de livros sobre alimentação sustenta:
“A refeição compartilhada não é algo insignificante. Trata-se de um dos fundamentos da vida em família, o lugar onde as crianças aprendem a arte da conversação e adquirem os hábitos que caracterizam a civilização: repartir, ouvir, ceder a vez, administrar diferenças, discutir sem ofender.”
Brócolis ou waffle?
Esse é um tema complexo, talvez até pelo excesso de informações que temos hoje em dia!
Mesmo sabendo que a família é a principal educadora nutricional, aqui, no dia a dia da Escola Viva, experimentamos uma educação que vai além dos nutrientes e das propriedades dos alimentos.
Da mesma forma que a criança aprende a andar - aos poucos, aprimora, ganha força na corrida e, para isso, mobiliza seus músculos, coordenação motora, equilíbrio e, também, suas competências emocionais - o vínculo com o alimento também vai ganhando contorno enquanto seu aparelho digestivo vai se constituindo para aprimorar o aproveitamento dos alimentos - a seu tempo e no seu ritmo.
Na nossa rotina, observamos certa dificuldade em fazer com que as crianças aceitem uma alimentação variada, experimentando novidades e ampliando suas preferências.
A experimentação de um alimento desconhecido costuma gerar resistência, afinal, o “novo” vem acompanhado de receios e inseguranças.
As hortas e as oficinas culinárias, por exemplo, são importantes estratégias pedagógicas para construir uma nova forma de lidar com a alimentação, cuidando de si em harmonia com a natureza.
Por isso, acreditamos na construção de um caminho sustentável consistente na educação alimentar, na formação de hábitos saudáveis, além da valorização das múltiplas relações que envolvem o alimento e o indivíduo, permeando o vínculo com a natureza, com o grupo e consigo próprio.
Trabalhamos a educação, somada ao exemplo, como estratégia para um paladar e escolhas mais saudáveis. Para nós, é importante que, ao final de todas as experiências vividas no dia a dia, as crianças, sozinhas, optem pelo “brócolis” (recheados de sabores e histórias). Acreditamos nessa importante construção, para um crescimento saudável e sustentável, uma conexão entre a saúde, a natureza e o respeito pela terra, considerando sempre, o ritmo e as escolhas individuais.
Compartilhamos do mesmo propósito levantado pela Bela Gil:
“Enxergamos o estudo da alimentação, nutrição e culinária como uma linda forma de nos (re)inserirmos na natureza. Conhecer os alimentos, saber de onde vêm, como foram plantados, os benefícios ou riscos para a saúde nos dão mais vontade de cuidar de nós mesmos, dos outros e do planeta”
Que possamos escolher mais brócolis!
Baixe o ebook:
Desenvolvendo competências socioemocionais na escola
- Mais alguns passos na luta antirracista
- Estudos do Meio: quando a aprendizagem acontece em todo lugar
- Educar: inventar problemas para fazer pensar
- A Cultura da Paz nas Escolas
- Um mundo diferente não pode ser construído por pessoas indiferentes
- Quando jovens ensinam…
- Eletrônicos no contexto escolar: ajudam ou atrapalham?
- Educação integral – afinal, o que ganham as crianças ficando mais tempo na escola?
- O desafio nosso de cada dia - como fazer dos conflitos algo positivo para o desenvolvimento de nossas crianças?
- Queremos você ao nosso lado
- Atividades complementares em uma Escola que é Viva
- No quintal tem um pé de livro