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AfroBioImagens: Diálogos com Brasis e Carolinas. Da presença negra e a luta antirracista.

Escrito por Escola Viva | 27 de Setembro de 2024

por Michael Hafran Filardi - Coordenação Pedagógica da Escola Viva

O que pode acontecer quando uma professora sabida e inquieta encontra parceiros(as) entusiasmados(as) e condições ideais para colocar em prática suas inspirações e provocações?

“Eu era muito diferente do que imaginava, e durante alguns dias me achei feia, como a sinhá sempre dizia que todos os pretos eram (…). E assim foi até o dia em que comecei a me achar bonita também, pensando de um modo diferente e percebendo o quanto era parecida com a minha mãe”. 

Essa passagem do extraordinário livro “Um Defeito de Cor” (Record, 2006), da mineira Ana Maria Gonçalves, ilustra boa parte da motivação pedagógica por trás de um projeto tão potente quanto foi o AfroBioImagens, idealizado pela professora de História, Luciana Sobral, em parceria com os professores de Língua Portuguesa, Lucas Meirinhos da Costa e Adriano Oliveira. 

De acordo com o historiador Jacques Le Goff “...devemos fazer o inventário dos arquivos do silêncio, e fazer a história a partir dos documentos e das ausências de documentos”. Já para o historiador de arte Giulio Carlo Argan, "a obra é sempre a mesma, mas as consciências mudam". 

Partindo dessas concepções da História e de leituras e projetos cruzados no 9° ano em 2023, com foco no Brasil e EUA do Século XIX e nas obras: "Kindred: Laços de Sangue" (Octavia Butler), “Brasil Tumbeiro” (Mario Aranha) e “Angola Janga” (Marcelo D'Salete), foi proposta a ressignificação crítica de arquivos imagéticos que compuseram nosso imaginário racista e racializado.

A colagem como linguagem de manifestação crítica social tem sido um recurso valioso nas mãos de artistas talentosos, como Silvana Mendes e sua bela série “Afetocolagens”, Keila Gondim e sua “Colagem Preta”, Domitila de Paulo e suas “Deusas no Orun”, Alberto Pereira e a série “Negro Nobre” ou ainda Moara Tupinambá com o conjunto “Mirasawá – povo, em língua Nheengatu”. Em todas essas obras, nota-se uma subversão do olhar eurocêntrico hegemônico pela retorsão de signos e reafirmação de novas identidades que valorizam a real riqueza da contribuição de negros e indígenas para a cultura nacional.

Ora, assim sendo, retomamos a passagem de Ana Maria para corroborar o quanto uma atividade desse tipo foi fundamental para ressignificar o olhar de nossos(as) estudantes e comunidade escolar acerca da potência e beleza de personalidades negras, muitas vezes suprimidas por uma cultura branca e eurocentrada.

Posso afirmar que esse projeto foi transformador não só para os(as) estudantes que dele fizeram parte, mas também para toda a equipe docente e eu que aqui vos falo.

Deleitem-se com as produções estudantis - e de alguns(mas) professores(as) - e espero que ressignifiquem vossos olhares tanto quanto ressignificaram os meus.

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